quarta-feira, 15 de junho de 2011

Parte 3

A história da Antarctica desenvolveu-se a par da da Brahma. Após os primeiros anos de alguma indefinição e de contínuas mudanças, a firma estabilizou, tornando-se numa das maiores empresas brasileiras do sector das bebidas. A última grande convulsão terá acontecido em 1940, ano em que os proprietários da Companhia Antárctica Paulista, Antonio e Helena Zerrener, alemães de nascença, faleceram e não deixaram herdeiros. A companhia passou então por diversas mãos, até ser comprada por vários investidores e se tornar na Companhia Antarctica Paulista – Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos, com fábricas em Bom Retiro (Cerveja Progresso e cerveja preta) e na Mooca (cervejas claras e conexos). Esta reformulação da empresa permitiu-lhe crescer e ficar mais forte, lançando-se então numa sucessão de aquisições, sendo talvez a de maior destaque a da Cervejaria Adriática, instalada em Ponta Grossa - PR. Esta companhia, pertencente aos Thielen, família de origem alemã, tinha ganho algum destaque na indústria cervejeira, principalmente através da cerveja Original, produzida, quase como a conhecemos ainda hoje, desde 1930. O desenvolvimento da Antarctica passou também pela constituição de uma maltaria própria, neste caso em Jaguaré, São Paulo, e por mais uma aquisição, nomeadamente o antigo prédio da Fábrica de Cerveja e Gelo Colúmbia, em Campinas - SP, que passou a servir de depósito à fábrica adjacente. Infelizmente, esse prédio encontra-se vazio e abandonado desde 1989.
Em 1960, a Antarctica celebrou 75 anos de história possuindo, por essa altura, uma capacidade de produção de 3,9 milhões de hectolitros/ano, número que engloba cervejas e refrigerantes. À medida que as vendas iam crescendo, também aumentava o número de empresas concorrentes. Uma dessas empresas era a Cervejaria Bohemia, produtora da excelente e muito antiga cerveja Bohemia e também do Guaraná Petrópolis, grande concorrente do Guaraná Antarctica. Para eliminar esse foco de competição, a Antarctica adquiriu o controlo accionário da cervejaria Bohemia, marca essa que ainda hoje faz parte do portefolio da AmBev. Com as constantes aquisições, a Antarctica tinha-se tornado num gigante industrial, sempre atento a novas oportunidades de mercado e a tendências de consumo. Pelo caminho, outras empresas iam ficando sob a sua alçada, casos da Polar, próspera empresa do estado do Rio Grande do Sul, ou da Cerman, da Cervejaria Catarinense (que se instalou em Joinville, em 1938) e, talvez a mais importante de todas, a Companhia Cervejaria Paulista. Esta firma, de grandes tradições e instalada em Ribeirão Preto desde 1911, iniciou uma tradição nesta cidade, local onde abririam inúmeras choperias, entra as quais a muito famosa Pinguim, ao lado do Theatro Pedro II. De facto, não é por acaso que Ribeirão Preto é denominada a Capital do Chope!
O ano de 1973 foi caracterizado por um conjunto de medidas postas em prática pela Directoria da Empresa, tendo em  vista a descentralização das actividades industriais e comerciais do complexo empresarial Antarctica. Nesse ano foram constituídas empresas com personalidade jurídica própria, em vários Estados brasileiros, a saber: a) Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, com sede em  Joinville, Estado de  Santa Catarina, que passou a operar a partir de Abril de 1973, com a incorporação das unidades de Ponta Grossa e Curitiba; b) Cervejaria Antarctica Niger S/A, de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, resultante da fusão, no mesmo ano, da Cervejaria Antarctica de Ribeirão Preto S/A, com a Cervejaria Níger S/A; c) Indústria de Bebidas Antarctica do Rio de Janeiro S/A, resultante da Fusão da Cervejaria Antarctica da Guanabara Ltda, com a Companhia Cervejaria Bohemia, de Petrópolis. A entrada na década de 70 é, pois, feita em grande, com mais uma mão cheia de aquisições e inaugurações. Assim, a Antarctica adquire ainda a Cervejaria Pérola de Caxias do Sul - RS e a Companhia Itacolomy de Pirapora - MG. Por curiosidade, refira-se que a produção da cervejaria em Pirapora foi estrategicamente transferida e centralizada, em 1998/99, na cidade de Jacarepaguá - RJ. No ano de 73 são também constituídas novas filiais em Goiânia - GO, Montenegro - RS, Rio de Janeiro - RJ e Viana - ES e nos anos seguintes são inauguradas as filiais no Rio Grande do Sul e Teresina. O desenvolvimento exponencial da firma foi também acompanhado por um crescente interesse no campo científico e tecnológico. Para isso, a Antarctica decidiu ampliar a sua maltaria, situada em São Paulo, adquirindo, ao mesmo tempo, uma área de 14,32 hectares em Paulo de Frontin - PR, destinada à pesquisa e experimentação agrícolas com a cevada cervejeira.
Assegurada que estava a sua estabilidade e representatividade em território brasileiro, importava agora abraçar novos desafios e explorar outros mercados. Os anos 80 são, por isso, dedicados à internacionalização da companhia, iniciando-se então a exportação de produtos da Antarctica para a Europa, Ásia e Estados Unidos. Curiosamente, o produto que acabou por ter mais sucesso foi o Guaraná, já que as cervejas da marca tiveram algumas dificuldades em se impor nos mercados mencionados. A comercialização de produtos para outros países, obrigou a um aumento na produção de bebidas, não sendo de estranhar o valor de 16,4 milhões de hectolitros/ano atingido em 1980. Para conseguir igualar a procura, foi necesssário a compra de mais fábricas e a abertura de novas filiais. É assim adquirida, ainda em 1980, a Cervejaria Serramalte, com as suas fábricas de Getúlio Vargas e Feliz - RS. Esta companhia, fundada em 1953, tinha como origem a Cervejaria Ruschel, fundada por Victor Ruschel tendo, posteriormente, passado a designar-se por Cervejaria Polka, até chegar ao nome de Cervejaria e Maltaria da Serra, Ltda. (Serramalte). Ao longo dos anos, apresentou uma evolução extraordinária, cotando-se mesmo como uma das maiores da região e do estado e uma das principais do ramo no país. Do início das suas actividades até 1957, a indústria funcionou apenas com o sector da maltaria, sendo que a venda da sua produção se limitava às regiões Central e Norte do país, enquanto era construída e montada a cervejaria. A 24 de Junho de 1957, foi lançada a primeira cerveja Serramalte, produto que ainda hoje é vendido pela AmBev. Todavia, a compra das fábricas da Serramalte continuava a ser insuficiente, pelo que, em 1985, se inicia a construção de uma fábrica da Antarctica em João Pessoa - PB, que começa a laborar três anos mais tarde, altura em que é também inaugurada a Fábrica de Cervejas Antarctica no Rio de Janeiro, com capacidade de produção de 3,5 milhões de hectolitros/ano. O número de filiais não pára igualmente de crescer pelo que, para não cansar, vamos apenas enumerar algumas: Filial Jaguariúna - SP, Filial Canoas - RS, Filial Cuiabá - MT, enfim, muitas e espalhadas um pouco por todo o Brasil, num total de 25.
A última década do século passado é aproveitada pela Antarctica para renovar a sua gama de produtos, começando pelo lançamento da Kronenbier, uma das primeiras cervejas sem álcool do mercado brasileiro. Para além desta, muitas outras surgem, novas ou apenas renovadas: a Antarctica Bock, a Polar, a Polar Pilsen, a Bavária Premium, a Antarctica Pilsen Extra em long neck, a Antarctica Pilsen em long neck com rótulo metalizado e ainda a Bavária Pilsen em garrafa 600ml descartável e em lata. Há finalmente que destacar o acordo entre a companhia e a gigante cervejeira norte-americana Anheuser-Busch no sentido de ser constituída a Budweiser Brasil, que tinha como objectivo a distribuição da cerveja Budweiser nos postos de revenda da Antarctica e, em troca, a venda do Guaraná Antarctica nos Estados Unidos. Mas é claro que o grande destaque desta década vai para a já referida união entre a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma, daí resultando a colossal AmBev, à qual voltaremos mais tarde. Entretanto, a Antarctica comemorou já o seu centésimo aniversário, tendo lançado para o efeito uma garrafa comemorativa.
Tendo feito uma breve resenha do historial das duas mais importantes companhias cervejeiras do Brasil, a Brahma e a Antarctica, não é menos importante debruçarmo-nos um pouco sobre as restantes empresas que, quer hoje quer no passado, ajudaram a moldar o mercado de cervejas deste país. Deste modo temos:
Belco - A Cervejaria Belco foi fundada em 1983 em Botucatu - SP. A empresa foi instalada onde antes funcionava a Belgium Co., uma cooperativa de produção que reunia os remanescentes da colonização belga na região. A formulação do nome veio naturalmente, com a junção das sílabas iniciais da cooperativa. A primeira unidade de produção tinha capacidade para produzir 3600 hectolitros/ano, comercializados em barris de madeira na forma de chopp. Em 1988, a fábrica mudou-se para São Manuel, onde ainda hoje se situa, tendo aberto, entretanto, uma segunda fábrica em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Actualmente, a cerveja é já exportada para os Estados Unidos, Europa e Ásia. No mercado, encontram-se as marcas Chopp Belco, Belco Pilsen, Tauber, Malzbier Belco, Mãe Preta e Belco Sem Álcool.
Cerpa - A cerveja Cerpa nasceu em 1966 pelas mãos da Cerpasa ou Cervejaria Paraense como também é conhecida. A fábrica ficou instalada junto das margens da Baía do Guajará, em Belém - PA, numa área de 157.633 m2. Apesar da forte concorrência de produtos como a Brahma e a Antarctica, a Cerpa conseguiu granjear um bom prestígio a nível interno, independentemente das vendas nunca terem realmente disparado. Procurando diferenciar-se das suas rivais pela qualidade do produto e inovação, a Cerpa apresentou, em 1996, o processo Draft Beer, no qual a cerveja não passa pelo tradicional sistema de pasteurização, mas antes por uns complexos filtros de celulose e descarga térmica. Actualmente, a Cerpa é líder no Estado do Pará e produz a Pilsen Draft Beer e a Export Draft Beer (Cerpinha).
Cervejaria Malta - A história desta cervejaria começa em 1956, com a escolha da cidade de Assis - SP para instalação da fábrica. O local foi escolhido pela presença de uma mina de água, cujas características minerais eram perfeitas para a produção de refrigerantes. Naquela época, com o nome inicial de Indústria e Comércio de Bebidas Cristalina Ltda, a empresa foi ganhando a preferência dos consumidores. Em 1960, ainda fabricando somente refrigerantes, a distribuição já atingia as cidades mais próximas. Procurando sempre expandir a área de venda dos seus produtos, a companhia organizou um quadro de distribuidores nas cidades da região, como Presidente Prudente, Marília, Bauru, Tupã e Londrina, a fim de ampliar a comercialização dos produtos Cristalina. Essa medida triplicou as vendas da empresa no período de um ano. Mantendo o crescimento constante com acções de merchandising e promoções, rapidamente se chegou à marca de 30.000 litros produzidos por dia em 1980. Em 1984, com o lançamento comercial do Chopp Malta (3600 litros/mês), iniciava-se uma nova fase da empresa. O começo da década de 90 é marcado pela estreia da nova Malta. No período seguinte, deve-se destacar o constante avanço tecnológico da firma, acompanhado pela ampliação da linha de produtos. Em 1996, a denominação social da companhia foi alterada para a actual Cervejaria Malta Ltda. Presentemente, a Cervejaria Malta comercializa: a Malta Pilsen, Malta Malzbier, Malta Golden e o Chopp Malta.
Cervejaria Petrópolis - Decorria o ano de 1993 quando um grupo de empresários se associou e decidiu comprar algumas máquinas, equipamentos e um terreno perto da rodovia Br 040 - Km 51. Aproveitando o clima ameno da região serrana, a existência de água de qualidade excepcional e fazendo uso dos excelentes conhecimentos  de um mestre cervejeiro e de matéria-prima importada de alta qualidade, é lançada em 1994 a cerveja Itaipava, cuja primeira aparição decorreu no Shopping Vilarejo, tendo tal festa contado com a presença de muitas pessoas da sociedade Petropolitana. A Itaipava começou a ser comercializada ainda nesse ano e em 1998 viria a aparecer com um novo rótulo, mais moderno e identificativo. Curiosamente, ainda em 98 a cervejaria é vendida a um novo grupo de investidores, que aposta na aquisição de novas máquinas e na expansão da fábrica. Surge igualmente um novo produto que teve logo boa aceitação no mercado brasileiro, a cerveja Crystal. Com o aumento da demanda e a preocupação em atender aos diversos paladares, a Cervejaria Petrópolis ampliou em meados de 2004, a sua lista de produtos, lançando a Petra, uma cerveja escura Premium (produzida em Petrópolis), além de ampliar as linhas das marcas Itaipava e Crystal com as long neck nas versões Pilsen, Premium e Malzbier e também versões em chope claro e escuro. A Petrópolis também inovou ao adoptar o selo higiénico, que é uma folha fina de alumínio que cobre a parte superior da lata e que tem de ser retirada para permitir a abertura da mesma.
Cintra - Em 1997, o grupo empresarial de origem portuguesa Cintra, lança-se no mercado de cervejas brasileiro. Com actuação em áreas tão diferentes como o petróleo, imobiliária, energias renováveis ou águas minerais,  a companhia viu uma hipótese de negócio a partir da aquisição de uma fábrica de cerveja situada em Mogi-Mirim - SP, antes pertença da Kaiser. Com uma capacidade de produção de perto de 150 milhões de litros de cerveja por ano só na unidade de Mogi-Mirim, o grupo Cintra prevê continuar a crescer no Brasil, não só através do lançamento de novos produtos mas também apostando no aumento da capacidade de produção das actuais fábricas. A conquista do mercado é feita através da Cintra Pilsen, Cintra Escura, Cintra Mulata e Chopp claro e escuro.
Colônia/INAB - Inicialmente designada por Cervejaria Sul Brasileira, a INAB (Indústria Nacional de Bebidas) é uma empresa recente no mercado de bebidas brasileiro, apresentando, no entanto, um forte crescimento e expansão. Fundada em 1994 por iniciativa de Jaime Gatto e Saul Brandalise Jr., a empresa de Toledo - PR elabora vários produtos, sendo o de maior destaque a cerveja Colônia Pilsen. Para além desta, produz também a Sambadoro, uma cerveja Premium destinada à exportação, a Colônia Malzbier, a Colônia Negra (uma cerveja escura tipo stout, lançada em 2004), a Colônia Low Carb, a Colônia Extra Lager e o Chopp Colônia. Um dos produtos mais inovadores desta firma é a Donna's Beer. Esta cerveja, especialmente vocacionada para o público feminino, possui aroma e sabor delicados, suaves e refrescantes, com uma sensação levemente frutada no paladar final. As garrafas são envolvidas por um rótulo sleeve (sistema de rotulagem plástica) importado de França, em tons de prata e vermelho, com detalhes em flores que se destacam quando expostos à luz negra.
Conti - O ano de 2001 assistiu à concretização de uma ambiciosa parceria entre a Krones, a maior fornecedora de máquinas do mundo para o segmento das bebidas, e a Casa di Conti, fabricante do tradicional vermute Contini. O resultado desse acordo de colaboração foi o surgimento da Cervejaria Conti, que ainda durante o primeiro ano iniciou a produção da cerveja Conti. A fábrica, com uma capacidade de produção de 300 mil hectolitros/ano, produz actualmente a Conti Bier, a Conti Malzbier e o Chopp Conti.
Eisenbahn/Cervejaria Sudbrack - A Sudbrack, de Blumenau - SC, é uma empresa bastante recente no mercado de cervejas brasileiro. Criada em 2002, surgiu devido ao descontentamento de alguns empresários do sector pela forma como estava a evoluir o mercado de cervejas do país. De facto, cada vez mais se faz chopp e cervejas do tipo pilsen, esquecendo-se os outros tipos tradicionais de cerveja originários da Europa. Apostando num experiente mestre cervejeiro e seguindo a Reinheitsgebot, a Lei Alemã da Pureza, criaram a Eisenbahn que pode, hoje em dia, ser degustada sob muitas formas: Dunkel, Kolsch, Pale Ale, Pilsen, Pilsen Orgânica, Weihnachts Ale, Weizenbier, Weizenbock, Rauchbier, Bierlikor e, claro, Chopp. Admitamos que tal variedade é muito difícil, senão mesmo impossível, de encontrar em qualquer outra empresa cervejeira brasileira.
Frevo - A empresa Frevo Brasil Indústrias de Bebidas, sedeada em Recife - PE, decidiu entrar no mercado das cervejas no início do novo milénio, lançando, para isso, a cerveja Frevo Pilsen em Julho de 2003. Tal representou um investimento de 20 milhões de reais e coincidiu com o sexto aniversário desta companhia. A área de distribuição desta cerveja pernambucana incidiu, inicialmente, na região do Nordeste, sendo que a empresa esperava conseguir controlar 10% desse mercado no final do  primeiro ano. Estes objectivos ambiciosos não foram totalmente atingidos pelo que, em Dezembro de 2005, a Frevo apareceu no mercado com uma nova fórmula, pronta a agradar ao gosto do consumidor brasileiro.
Germânia - Apesar do nome idêntico, não se deve confundir esta cervejaria com uma que existiu no início do século XX e que entretanto desapareceu. A actual Germânia foi fundada em 1991 na cidade de Vinhedo - SP. Após um início difícil, a contratação de um mestre cervejeiro e o investimento no desenvolvimento da fábrica fez com que a empresa se tornasse conhecida, especialmente na venda de chopp. Resultado: hoje a Germânia responde por 10% do mercado de chopp de São Paulo e prepara-se para obter a mesma performance longe da região Sudeste. Para além do chopp, a Germânia comercializa também a cerveja Pilsen e a Escura.
Guitt's/Refrigerantes Convenção - A Guitt's, criada em 2001 pelos Refrigerantes Convenção, é uma nova aposta desta empresa e resulta num investimento que permitiu criar na cervejaria uma capacidade instalada suficiente para produzir 300 mil hectolitros anuais. Localizada em Caieiras - SP, a firma produz a Guitt's Pilsen e a Guitt's Malzbier. E porquê Convenção? Em 18 de abril de 1873, um encontro denominado “Convenção de Itu”, reuniu um grupo de paulistas partidários do derrube do regime monárquico. Eram, na sua maioria, fazendeiros, comerciantes, profissionais liberais e beneficiários dos negócios da grande lavoura cafeeira. Neste encontro foram propostos novos princípios para a organização do país e lançadas as bases do movimento republicano. Foi este grande marco histórico que inspirou a criação da marca Convenção.
Kaiser – Tudo começou em 1980, ano em que Luiz Otávio Possas Gonçalves, um dos principais accionistas do grupo Gonçalves-Guarany, proprietário, desde 1947, de duas grandes engarrafadoras de Coca-Cola no estado de Minas Gerais, passou a perder gradualmente a sua participação no mercado de refrigerantes. De facto, as duas maiores marcas líderes do mercado de cervejas praticavam um tipo de vendas em que quase obrigavam o comerciante a comprar guaraná e soda à empresa que também lhe vendia cerveja. Para tornear esse problema, Luiz Gonçalves optou por passar a fabricar, ele próprio, cerveja. Arriscando todo o capital de que dispunha para construir uma nova cervejaria em Divinópolis - MG, a Kaiser rapidamente conseguiu colocar a sua primeira garrafa no mercado, a 2 de Abril de 1982. O nome Kaiser foi escolhido devido ao seu significado em alemão (‘Imperador’), por ser uma palavra de pronunciação fácil e por associar à imagem da marca a tradição dos antigos cervejeiros alemães. O rápido sucesso que a empresa teve em Minas Gerais possibilitou a expansão da estrutura com novas fábricas em Mogi-Mirim – SP e Nova Iguaçu – RJ. No final de 1983, a Kaiser já distribuía para os grandes mercados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nessa mesma época, a tradicional cervejaria holandesa Heineken, uma das maiores exportadoras de cerveja do mundo, passou a dar assistência técnica à Kaiser. Em 1984, a Coca-Cola Internacional entrou na sociedade, ao comprar 10% da cervejaria, convencida que o mercado brasileiro apresentava características incomparáveis ao resto do mundo. Em 1986, a marca Kaiser já estava em Goiás, na região de Brasília e Mato Grosso. Depois, em Setembro de 87, foi criada uma nova unidade em São Paulo, na cidade de Jacareí, o que reforçou o abastecimento na região. O crescimento da companhia fez-se também através de aquisições e lançamento de novos produtos, como aconteceu com a compra da marca Xingú, da Cervejaria Independente Lda., de Toledo – PR e o aparecimento de uma nova marca de cerveja pilsen baptizada de Santa Cerva. Em 2002 viria a ocorrer uma grande alteração no capital social da empresa, já que a canadiana Molson Inc. adquiriu a companhia por US$ 765 milhões. A operação envolveu a aquisição das Cervejarias Kaiser Brasil S.A, Cervejarias Kaiser Pacatuba S.A., Cervejarias Kaiser Nordeste S.A. e Cervejarias Kaiser Goiás S.A., com a transferência de 100% das acções da Bavaria Ltda., ficando somente a denominação Cervejarias Kaiser Brasil S.A. Apenas 4 anos depois a Kaiser viria a ser novamente comprada, desta vez pela mexicana Femsa que adquiriu 68% do capital da empresa, continuando 15% com a Molson e 17% com a Heineken. Hoje, a Kaiser possui 10 fábricas, gera cerca de 2300 empregos directos e 620 indirectos. A estratégia de expansão da empresa continua forte e activa, com lançamentos de produtos como a Kaiser Gold (uma cerveja que já existia no Sul e que agora passou a ser vendida também em São Paulo), a Santa Cerva Malzbier e a Bavaria Premium em lata, uma das mais antigas cervejas do Brasil. Para além disso, novas unidades foram surgindo, como sejam as de Araraquara - SP, Feira de Santana - BA, Ponta Grossa - PR e Gravataí - RS.
Krill - A Cervejaria Krill, fundada em 1987, está localizada na Estância Hidromineral de Socorro - SP, a 140 Km da capital paulista, povoação famosa em todo o país pelas suas riquezas naturais e pela abundância de fontes de água mineral. A privilegiada região em que a empresa se localiza é conhecida como "Circuito das Águas" e atrai, todo o ano, milhares de turistas que procuram descanso e contacto com a natureza. Em 1994, a cerveja Krill começou a ser produzida de uma forma quase artesanal, isto apesar da história da empresa se ter iniciado bastante antes, mais precisamente na década de 50 do século passado. Da produção de bebidas como  licores e conhaques, rapidamente se passou à elaboração de refrigerantes, nomeadamente o Guaraná Mantovani ou Indião, como é conhecido na região. Esta bebida depressa se tornou líder do mercado regional, sendo um sucesso absoluto entre os habitantes locais e os turistas e visitantes do "circuito das águas". No início dos anos 80, ainda sob o comando dos Mantovani, a empresa foi vendida a um grupo de empresários paulistas. O início da produção de cerveja resultou do facto desses empresários terem sentido a necessidade de lançar um novo produto no mercado. A Krill teve então algum sucesso e, com ele, tornou-se evidente a necessidade de se efectuarem mais investimentos. No início de 1996, a empresa adquiriu uma linha de produção ainda mais moderna, munida de centrais computorizadas. Mais recentemente foi lançada a Malzbier nas versões garrafa de 600 ml e long neck. A empresa comercializa também o Chopp Krill.
Kilsen - A história da cerveja Kilsen começa a 3 de Julho de 1984, com a aquisição de uma pequena engarrafadora de aguardente na cidade de Chapecó - SC. A perseverança e tenacidade dos novos proprietários fizeram com que a fábrica rapidamente atingisse a sua capacidade máxima de produção, pelo que se tornou necessário ampliar as instalações e mesmo deslocalizá-las. Em Novembro de 1987, a empresa transferiu-se para novas instalações, tendo por objectivo a criação de uma rede distribuidora capaz de satisfazer todo o mercado brasileiro e mesmo alguns países do Mercosul. Actualmente, a companhia produz a Kilsen Pilsen, a Kilsen Chopp, a Kilsen Malzbier e a Kilsen Extra.
Lecker/Worldbev - A Worldbev (antes conhecida por Fornel e Cia.) está presente no mercado de bebidas há mais de 40 anos (bebidas Boite Show), elaborando produtos tão diversificados como sejam os refrigerantes, cervejas, vinhos, chopps, destilados, entre outros. Actualmente, a empresa está instalada numa área de 100.000 metros quadrados, na cidade de Capivari, estado de São Paulo. Tendo-se dotado dos mais modernos e sofisticados equipamentos para elaboração e engarrafamento dos seus produtos, a companhia comercializa, hoje em dia, várias marcas de cerveja, a saber: Lecker Pilsen, Piva, Prosit, Lecker Malzbier e Lecker Munique.
Lokal/Cervejaria Teresópolis - A Cervejaria Teresópolis, uma divisão industrial da tradicional Bebidas Comary, empresa líder de mercado em compostos alcoólicos, apostou, no início de 2003, no lançamento da cerveja Lokal Bier (que quer dizer "cerveja da nossa terra"), após investir cerca de 40 milhões de dólares. Gerando 480 empregos directos e indirectos, a Cervejaria Teresópolis tem potencial somente na 1ª fase para produzir mais de 10,8 milhões de garrafas de 600ml por mês, com perspectiva de ampliar para mais de 24 milhões/mês na 2ª fase (já em andamento). Actualmente, a empresa possui uma rede de 60 distribuidores, estando presente em mais de 250 mil postos de venda e em cinco estados diferentes: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e São Paulo. Do seu portefolio fazem parte a Ale, a Bock, a Dortmunder, a Ice, a Malzbier, a Munchen, a Weissbier, a Porter, a Stout e a Pilsen
Schincariol - A história da Schincariol começa em 1939, na cidade paulista de Itu. Fundada por Primo Schincariol, a pequena e simples fábrica limitava-se a produzir refrigerantes, como a famosa Itubaína com sabor a tutti-frutti. Durante muitos anos a empresa manteve-se a um nível regional, só se destacando a partir de 1989, altura em que começou a produzir a sua primeira cerveja, tipo pilsen, que foi logo um sucesso em termos comerciais. Hoje, a Schincariol tem 7 fábricas, que produzem mais de 2,1 biliões de litros de cerveja por ano. A sua linha de produtos é formada por cervejas, chopp, refrigerantes e água mineral e estes são distribuídos em todo o território brasileiro, para além de vários países do Mercosul, Ásia e Europa. Em 2003, a empresa lançou a All Beer, uma marca própria dos supermercados Carrefour, resultante de intensas negociações entre as duas firmas. A gama de cervejas da Schincariol inclui a Nova Schin, a Primus, a Glacial e a NS2. A sua última unidade industrial localiza-se em Igrejinha - RS e resulta de um investimento de R$ 170 milhões. A planta vai produzir 150 milhões de litros de cerveja e 50 milhões de litros de refrigerante e água mineral por ano, com geração de 300 empregos directos e 2,4 mil indirectos.
Act.: Durante 2007/2008, a Schincariol comprou as microcervejarias Nobel, Devassa, Baden-Baden e Eisenbahn. Eis uma breve história sobre a Indústria de Bebidas Igarassu (IBI), fabricante da cerveja Nobel:
A Indústria de Bebidas Igarassu (IBI) iniciou as suas operações em Setembro de 2006, na cidade de Igarassu, situada a cerca de 30 km de Recife. A cidade foi escolhida por possuir um lençol freático com uma das águas mais puras do Brasil, o que possibilita a produção de uma cerveja com muito qualidade.A Nobel começou a ser vendida em Outubro de 2006 e rapidamente se tornou num sucesso em Recife. Os consumidores receberam a novidade de braços abertos e, em apenas nove meses, a cerveja já havia conquistado 6,4% de participação de mercado na cidade. Um desempenho excepcional, que poucas vezes foi visto na história do disputado mercado de cervejas. Em 2007, o Grupo Schincariol comprou a IBI e a marca Nobel. Foi assim que a marca se expandiu para outras praças no Nordeste, como Maceió e Salvador. Este processo de expansão ganhou mais força com a comercialização de Nobel no interior do Estado da Bahia, em Aracaju (SE), Natal (RN) e João Pessoa (PB). Em Abril e Maio do mesmo ano, a Nobel também começou a ser comercializada em Fortaleza (CE), Teresina (PI) e em São Luís (MA), onde a cerveja só foi vendida em supermercados e hipermercados. Em São Paulo, na capital e em algumas cidades do interior, a Nobel pode ser encontrada na rede Pão de Açúcar.
Spoller/INBEB - A Spoller é uma empresa que iniciou as suas actividades em Ourinhos - SP, local onde produz a tradicional cachaça Oncinha. Em 1997 a companhia passou também a produzir a cerveja Spoller e, numa tentativa de aumentar a capacidade de produção, mudou-se em 2004 para a cidade de Londrina - PR, adoptando a empresa uma nova designação comercial: INBEB - Industrial Norte Paranaense de Bebidas, Lda. A firma comercializa as cervejas Spoller Pilsen e Spoller Malzbier.
E eis-nos na altura de regressarmos à história bem recente da AMBEV e da INBEV. Por motivos cronológicos, falemos então da primeira. A Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV) resultou da fusão das históricas Companhia Antarctica Paulista e Companhia Cervejaria Brahma. Após longos meses de negociações, as empresas chegaram a um acordo, criando, assim, a 5ª maior empresa de bebidas do mundo. Esta nova empresa possuía, no seu leque de marcas, produtos tão famosos como a Brahma, a Antarctica, a Skol, a Bohemia e ainda outras marcas como a Kronenbier, a Caracu, a Carlsberg, a Miller, a Polar e a Serramalte. A única designação que alienaram foi a Bavária, vendida ao gigante canadiano Molson que, entretanto, adquiriu o grupo Kaiser. Apesar desta junção, os produtos mantiveram a sua autonomia e diferentes ritmos de desenvolvimento. Por exemplo, logo no ano 2000 a Antarctica aproveita para mudar de visual, apresentando uma nova cor, um novo rótulo e uma nova campanha na comunicação social, cujo slogan era: "Mudou ou não mudou?". Do lado da Brahma, apareceram as embalagens termossensíveis que indicavam se a cerveja estava gelada e, portanto, no ponto exacto para ser bebida.
Mas não foi apenas na área das cervejas que a AMBEV apostou forte. Através de aquisições e fortes campanhas publicitárias lançou novos produtos em mercados pouco tradicionais, como foi o caso do grande investimento que fez em Portugal e Porto Rico por altura da introdução nesses países do Guaraná Antarctica. Aliou-se igualmente a empresas importantes, como a argentina Quilmes, a peruana Embotelladora Rivera ou a equatoriana Cerveceria SurAmericana, facto que lhe permitiu aceder com mais facilidade a alguns países da América do Sul e Central. Chegou mesmo a comprar as uruguaias Salus e Cympai (produtora das marcas Nortea e Prinz). A nível interno, foram apresentados três novos produtos: a Skol Beats, a Bohemia escura e a Bohemia Weiss.
Ainda o mercado não tinha absorvido por completo a junção da Brahma com a Antarctica, já outro terramoto comercial se adivinhava: a união entre a AMBEV e a Interbrew. Tal viria a ser anunciado em 2004, originando a criação da INBEV, uma empresa com mais de 200 marcas no seu portefolio, entre as quais se encontram as bem conhecidas Beck's, Brahma, Stella Artois e Leffe. Empregando cerca de 85.000 pessoas e estando presente em 32 países, a INBEV é actualmente a maior empresa cervejeira do mundo, vendendo cerca de 202 milhões de hectolitros de cerveja e 31,5 milhões de hectolitros de refrigerantes só em 2004. A Interbrew era uma empresa de raízes belgas, formada pela junção da flamenga Stella Artois com a Piedboeuf da região da Valónia. O seu carácter regional só desapareceu quando adquiriu a canadiana Labatt, uma companhia que, à altura, era practicamente do mesmo tamanho que a Interbrew. A partir daí, através de fusões e aquisições, tornou-se na maior companhia de cervejas do mundo, à frente de gigantes como a SABMiller, a Anheuser-Busch e a Heineken.
Já sob a nova gerência, é introduzida, ainda em 2004, a cerveja Serrana, com uma receita inédita, elaborada a partir de várias fórmulas datadas do início do século XX e que foram encontradas na fábrica da cervejaria Antarctica durante a catalogação do Projecto Memória Viva da empresa. Para além desta, surgem também a Bohemia Royal Ale, a Brahma Liber e a Skol big-neck, em garrafa de 50cl e com tampa de rosca.
Resta-nos deixar uma última palavra para a cerveja que é líder incontestada do mercado brasileiro: a Skol. Curiosamente, a ideia de formar a Skol surgiu na Europa, em 1964, a partir de um grupo formado por seis cervejarias entre as quais se incluia a "Sociedade Central de Cervejas", de Portugal. Inicialmente, a Skol associou-se ao Grupo S (Scarpa), que era detentor de 4 cervejarias: a Rio Claro (Caracu), a Santista, a Cayru e a Londrina. Essa união originou a Indústrias Reunidas Skol/Caracu, S.A., que viria a lançar a cerveja Skol Pilsen. Em 1970, a Skol é adquirida pela BRASCAN, grupo formado por empresários brasileiros e canadianos. A estrutura accionista só viria a ser alterada em 1980, ano em que a Brahma compra a empresa, juntando às suas marcas a Skol, a Caracu e a Ouro Fino. Sempre na vanguarda da tecnologia, a Skol foi a primeira cerveja em lata do Brasil a ser comercializada em folha de flandres, para além de ter inovado com embalagens descartáveis de vidro e tampas de abertura fácil. Por outro lado, novas versões vão surgindo, como sejam a Skol Bock, a Skol Ice e a Skol Fest (cerveja em lata de 5 litros, acompanhada de bomba e bolsa térmica), mantendo-se igualmente a aposta na Caracu (relançada em lata em 1998). É também firmado um acordo com a Carlsberg, o que permite à Skol distribuir esta marca no Brasil. A última grande novidade desta empresa foi o lançamento, em 2002, da Skol Beats, uma cerveja refrescante e de aspecto moderno e, mais recentemente, a Skol Lemon, uma cerveja com um ligeiro sabor a limão.

Parte 2

Após uma breve resenha histórica aos primórdios da fabricação e consumo de cerveja no Brasil, importa agora debruçarmo-nos sobre as marcas que assumiram, não só, a liderança do mercado, mas também a vanguarda tecnológica. E nestas áreas há que destacar duas empresas: a Brahma e a Antarctica. Considerando que só a partir dos anos 30 do século XX se começou a definir com alguma precisão  o conceito de marca, já que, como referimos anteriormente, muitas cervejas eram lançadas para o mercado sem nome próprio, iremos fazer uma análise à história de cada uma individualmente. Deste modo e sem ter em conta nenhuma ordem em especial, começaremos pela Brahma.
Como já mencionámos na primeira parte deste artigo, a Brahma foi fundada em 1888 pelo imigrante suiço Joseph Villiger. A empresa, então instalada na Rua Visconde de Sapucaí 128, adoptou o mesmo nome que um deus da Índia, muito venerado junto das águas do lago de Pushkar, sendo que quem aí se banha tem todos os seus pecados perdoados, por piores que estes sejam. A primeira imagem associada à Brahma representava uma mulher envolta por ramos floridos de lúpulo e cevada, sendo esta a componente do também primeiro rótulo da marca. Após algumas fusões e aquisições já aqui enumeradas, a Brahma era, no início da década de 30, uma empresa bem estruturada e virada para o futuro. A aposta em novas tecnologias e publicidade criou uma grande afinidade entre a empresa e os consumidores, não sendo por isso de estranhar que, em 1934, fosse a Brahma Chopp a cerveja mais consumida no país. Nesse ano, a produção alcançou os 30 milhões de litros de cerveja. Ary Barroso e Bastos Tigre compuseram a marchinha "Chopp em Garrafa" que, cantada por Orlando Silva, publicitou fortemente este produto. De facto, a Brahma Chopp era a principal marca da firma, em 1937, ao lado de 29 tipos de cerveja e 16 tipos de refrigerante. Em 1943 é introduzida a Brahma Extra, cerveja com extrato forte e encorpado e que tinha o slogan "Extra no Sabor, Extra na Qualidade, Extra nos Ingredientes - Cerveja Brahma Extra, em garrafas ou 1/2 garrafas". Para além do lançamento de novos produtos, a política de aquisições mantinha-se bastante activa. Exemplo disso foi a compra do maior grupo cervejeiro do Rio Grande do Sul, a Bopp, Sassen, Ritter e Cia. Ltda, também conhecida por Cervejaria Continental, em 1946, que mais tarde se viria a tornar na filial Rio Grande do Sul. Esta fábrica foi, entretanto, descontinuada (1998).
Em 1954, a empresa celebrou o seu quinquagésimo aniversário, tomando como base o ano de 1904, data em que a firma se tornou na Companhia Cervejaria Brahma, resultante da fusão entre a Cervejaria Brahma e a Cervejaria Teutônia. Nesse curto espaço de tempo, a empresa tinha-se tornado numa das maiores do Brasil, com 6 fábricas e 1 maltaria em laboração. Para continuar a expandir-se, tornava-se urgente a elaboração de um plano de distribuição que abrangesse as áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos. Para isso, a Brahma comprou pequenas empresas e criou filiais. Neste último caso, podemos dar como exemplos a filial de Agudos, São Paulo, que nasceu a partir da antiga Companhia Paulista de Cerveja Vienenses, que mais tarde passou a fabricar a cerveja em lata, ou a Filial do Nordeste, na cidade do Cabo - Pernambuco, que foi inaugurada em 1962. Sendo a Brahma uma empresa de capital 100% nacional e sempre preocupada em manter o padrão de qualidade dos seus produtos e a participação no desenvolvimento do país, tornava-se óbvio que a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico não podiam ficar de fora dos seus planos. Assim, em 1968, é inaugurada, no Rio Grande do Sul, a Estação Experimental de Cevada para testes de novas variedades de cevada cervejeira, adaptadas ao clima e solo da região. Em 1971, através da Cervejaria Astra S.A., a companhia concretiza uma forte aliança para a fabricação e distribuição dos seus produtos no Norte e Nordeste do Brasil. A Astra tinha sido criada um ano antes pela firma J. Macêdo & Cia, em Fortaleza - CE, produzindo então uma cerveja de marca própria. Ainda nesse ano, a J. Macêdo adquire o controlo accionário da Cervejaria Miranda Corrêa, de Manaus - AM, para, de seguida, se associar à Brahma, como já atrás foi referido.
Os anos 70 são marcados pela contínua expansão da companhia e por algumas alterações na forma de apresentar os produtos. Logo em 72, a filial de Agudos lança a Brahma Chopp e a Brahma Extra em lata de folha de flandres. É também nesse ano que chega ao mercado a garrafa "personalizada", de vidro incolor e com o nome do produto gravado no vidro. Esta evolução iria dar origem, alguns anos mais tarde, ao lançamento da Brahma Chopp em garrafa própria, de vidro e cor âmbar (antes era engarrafada em vasilhames de qualquer cor). Destaca-se também a adopção dos engradados plásticos para o transporte de cervejas e refrigerantes, inovação levada a cabo pela filial da Brahma em Curitiba (antiga Cervejaria Atlântica, na posse da Brahma desde 1942). Realce igualmente para o pequeno número de novas cervejas que foram lançadas durante esta década. Tal iria manter-se durante os anos 80, período em que a Brahma apostou forte no mercado de refrigerantes. Todavia, a origem cervejeira da empresa nunca foi descurada, pelo que não é de admirar que em 1980, com a exportação da Brahma Beer (Brahma Chopp), a revista "The Washingtonian" a tenha eleito como a melhor cerveja importada dos EUA. Para aumentar a sua participação no mercado cervejeiro, a empresa adquire o controlo accionário das Cervejarias Reunidas Skol Caracu, S.A. Além da cerveja Skol, Chopp Claro Skol, da cerveja em lata Ouro Fino (destinada à exportação) e da histórica cerveja Caracu, a companhia deu continuidade à sua linha de produtos, elaborados em 7 fábricas espalhadas um pouco por todo o Brasil.
Tecnologicamente avançada e com espírito empreendedor, a empresa lançou, em 1982, a Brahma Light, a primeira cerveja de baixa fermentação e baixo teor alcoólico produzida no Brasil. Em 1983, na cidade de Nova Iorque, a Brahma Light concorreu com mais de 972 trabalhos internacionais e 14 brasileiros ao prémio "Clio Awards", um dos mais prestigiados do mundo publicitário, tendo arrebatado o primeiro lugar. Mas como nem só de publicidade vive uma empresa, importando igualmente a qualidade dos seus produtos e a atenção que dá à satisfação das necessidades dos seus consumidores, foi introduzida, em 1984, a Malt 90, apresentada em embalagens de garrafas retornáveis de 300 e 600ml e também em lata. Esta cerveja do tipo pilsen, apresentava cor clara, teor alcoólico médio e paladar suave e saboroso. Infelizmente, não foi muito bem recebida pelos consumidores e acabou por ser descontinuada, pelo que já não se encontra disponível no mercado. A internacionalização da marca e a sua grande aceitação no mercado interno fez com que o jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" a destacasse como a 7ª empresa de cerveja do mundo, numa avaliação com companhias de mais 90 países. Este reconhecimento económico surgiu a par do reconhecimento científico, obtido após a inauguração de uma moderna cervejaria piloto para o desenvolvimento de novos produtos, no laboratório da Filial Rio. Outra importante realização foi a inauguração, em 1988, de mais uma fábrica de cerveja, neste caso a Cebrasp, em Jacareí, São Paulo. Acompanhando a evolução do mercado e preocupada com o meio ambiente, a Brahma lançou igualmente o "Projecto Brahma para Reciclagem", introduzindo então a embalagem em lata de alumínio para a Brahma Chopp e também a embalagem descartável de 300ml para a Malt 90. O final da década fica fortemente marcado pela aquisição da Companhia Cervejaria Brahma pelo Grupo Garantia, iniciando-se então um período de reestruturação e construção de novas fábricas, como por exemplo a da Cervejaria Equatorial, em São Luis, Maranhão.
A entrada na última década do século passado fez-se, pois, com excelentes perspectivas no futuro e com um espírito cada vez mais empreendedor. Deste modo, institui-se em 1991 o Serviço ao Consumidor Brahma, junto com o Código de Defesa do Consumidor, ambos visando garantir apoio e satisfação aos clientes. Durante o ano de 1992 inicia-se o esforço de exportação da Brahma Chopp para a Argentina onde, ao final do primeiro ano, se torna a cerveja nº 1 entre as importadas. Como consequência, torna-se necessário ampliar algumas fábricas, o que acontece com a Cebrasp. 1994 é um ano de mudanças e conquistas. A Administração Central da companhia sai do Rio de Janeiro e instala-se em São Paulo, cidade onde ainda hoje se encontra. Relativamente às conquistas, temos a incorporação da Companhia Anonima Cervecera Nacional, da Venezuela, no portefolio da empresa, passando aí a produzir-se a Brahma Chopp. São inauguradas igualmente mais duas filiais: a Filial Santa Catarina, em Lages e a Fábrica de Luján, na Argentina. Este desenvolvimento chama a atenção da empresa norte-americana Miller Brewing Company, que constatou que o mercado cervejeiro estava em crescimento, especialmente na América do Sul. Em função disso, faz em 1995 uma joint venture (acordo) com a Brahma para distribuir a Miller Genuine Draft. Neste acordo, havia a possibilidade da Brahma fabricar a cerveja no Brasil para competir no mercado interno. É exactamente o que acontece em Julho de 1996: a Miller Genuine Draft passa a ser fabricada pela Cebrasp e distribuída pela rede Exclusivas Brahma. A partir desse ano, o 0800 foi divulgado em todas as embalagens dos produtos e o consumidor também pôde optar pelo atendimento via carta e, desde Junho, via Internet. A companhia foi a primeira empresa de bebidas a oferecer esse serviço via Internet ao consumidor mantendo, inclusive, contacto com consumidores de outros países. As perguntas e sugestões dos consumidores geraram algumas mudanças de processos e contribuíram para o desenvolvimento de novas embalagens como a Malzbier long neck. Reforçando o seu carácter moderno, a empresa lança no mercado as novas embalagens long neck e lata com 355ml, já que esse é o padrão internacional de embalagens descartáveis. Para dar continuidade a essa modernidade e atender às necessidades do consumidor, a Malzbier Brahma, lançada em 1945, sofre uma modificação visual no seu rótulo e também entra no mercado com a embalagem long neck na versão 355ml.
Os últimos dez anos continuaram a ser de crescimento, pelo que, muito naturalmente, se tomou a decisão de expandir o parque fabril. No início de 1996 é inaugurada a Filial Rio de Janeiro, no bairro de Campo Grande - RJ. Trata-se da maior fábrica de cerveja da América Latina, com capacidade de produção de 12 milhões de hectolitros por ano. É igualmente iniciada a construção de mais 2 unidades fabris: uma em Viamão - Rio Grande do Sul e outra correspondente à Cervejaria Águas Claras, no município de Estância, Aracaju. O aumento da produção permite também um incremento nas exportações, pelo que em 1998 a Brahma Chopp passou a ser exportada para a Europa, utilizando como porta de entrada a França. Influência deste último país, ou não, o facto é que a chegada do novo milénio é comemorada com a introdução de uma Brahma Chopp em embalagem especial, muito similar a uma garrafa de champanhe. Aproximava-se então o grande choque: em 1999, a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma anunciavam a criação da Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV), resultante da fusão entre ambas. Estava assim criado um gigante económico mundial, sobre o qual nos debruçaremos mais tarde.
Já em 2006, surge o Chopp Brahma Black. Trata-se de um chopp estilo Lager, escuro, com adicção de nitrogénio, o que torna a bebida mais leve e com uma espuma muito mais estável e cremosa.
Nota: alguma da informação aqui contida foi desenvolvida com base no excelente site Cervisiafilia, local que desde já o convidamos a visitar

A historia da Cerveja no Brasil Parte 1

A cerveja é um produto com longa tradição no Brasil, surgindo já referências a esta bebida em documentos que datam do século XVII. No entanto, a sua ascensão foi demorada e tortuosa, sendo que, no início do século XIX, a cachaça e o vinho eram as bebidas alcoólicas preferidas pelo povo. Nessa época, a cerveja já era produzida, mas o seu consumo não se encontrava generalizado, antes permanecendo como uma produção caseira e típica de populações imigrantes. Por outro lado, devido à pressão e influência portuguesas, o vinho era a bebida mais comercializada. Tal situação só seria modificada com a abertura dos portos brasileiros a artigos de outras origens que não portuguesa, sendo a cerveja um desses produtos. O consumo foi crescendo gradualmente e, em 1836, surgiu a primeira notícia sobre a fabricação de cerveja no Brasil. Esse anúncio, publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, dizia o seguinte: "Na Rua Matacavalos, número 90, e Rua Direita número 86, da Cervejaria Brazileira, vende-se cerveja, bebida acolhida favoravelmente e muito procurada. Essa saudável bebida reúne a barateza a um sabor agradável e à propriedade de conservar-se por muito tempo". Tal seria o ponto de arranque para o desenvolvimento da cerveja a um nível mais comercial. Em 1846, Georg Heinrich Ritter instala uma pequena linha de produção de cerveja na região de Nova Petrópolis - RS, criando então a marca Ritter, uma das precursoras do ramo cervejeiro.
A década de 40 do século XIX foi um período de grande desenvolvimento no fabrico e consumo de cerveja. Para além da já mencionada cerveja Ritter, muitas outras aproveitaram o caminho anteriormente desbravado, como sejam os casos da firma Vogelin & Bager, que abriu uma cervejaria no bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, ou a Henrique Leiden e Cia, que deu origem à Imperial Fábrica de Cerveja Nacional, também no Rio de Janeiro. O Almanak Laemmert dá-nos a conhecer muitas outras cervejarias que foram abrindo um pouco por todo o Brasil, desde Joinville - SC a São Paulo - SP, passando por Petrópolis - RJ e Niterói - RJ. Na década seguinte, apareceu uma nova leva de industriais interessados em investir neste negócio florescente. Para dar apenas alguns exemplos, recordamos a Fábrica de Cerveja Nacional de Alexandre Maria VillasBoas & Cia, no Rio de Janeiro - RJ, a Fábrica de Cerveja de Thimóteo Durier, em Petrópolis - RJ, a Fábrica de Jacob Nauerth no Rio de Janeiro - RJ, a Fábrica de Cerveja Guarda Velha de Bartholomeu Correa da Silva, também no Rio de Janeiro e a Fábrica de Cerveja de Friederich Christoffel, em Porto Alegre - RS. Poderíamos aqui incluir muitas outras, mas o nosso objectivo não passa por enumerá-las todas. Queremos apenas demonstrar a grande quantidade de fábricas e cervejarias que foram surgindo entre os anos 40 e 80 do século XIX, algo que permitiu uma grande expansão no consumo de cerveja, facto esse que levou a que esta bebida se tornasse a mais popular do Brasil.
Curiosamente, até ao estabelecimento da cerveja como bebida rainha, o produto mais procurado e consumido pela população era a "Gengibirra", feita de farinha de milho, gengibre, casca de limão e água. Após a mistura dos ingredientes, deixava-se a infusão a descansar alguns dias, sendo posteriormente vendida em garrafas ou canecas. Também popular era a "Caramuru", feita de milho, gengibre, açúcar mascavado e água, sendo que esta mistura costumava fermentar por uma semana antes de ser consumida. Todavia, e como referimos, estes produtos passaram a sofrer uma forte concorrência por parte da cerveja, sendo exemplo disso o pequeno bar "À Cidade de Berna", local de grande sucesso onde era servida a Cerveja Bávara, então produzida pela Stupakoff & Cia. Por essa altura, o Rio de Janeiro já era uma cidade comparável a outras da Europa, possuindo um mercado consumidor relevante. A venda de cerveja era feita ao balcão da própria cervejaria, que atendia a particulares. As entregas eram feitas por carroças, que se deslocavam às zonas comerciais dos bairros adjacentes.
Em 1882 formou-se uma sociedade que iria dar origem a uma marca que, ainda hoje, desempenha um papel de grande relevo na indústria cervejeira brasileira. Assim, surge a expressão "Antarctica", fruto da associação entre Louis Bucher e Joaquim Salles, este último proprietário de um matadouro de suínos com aquele nome, local onde possuía uma máquina de fazer gelo. Tal facto revestiu-se de enorme importância pois as fábricas não produziam cerveja com marca alguma, já que esta era vendida directamente dos barris e, nos poucos casos em que era engarrafada, não possuía um rótulo próprio. O passo seguinte para esta sociedade foi a criação da "Antarctica Paulista - Fábrica de Gelo e Cervejaria", firma que, como o nome indicava, se dedicava à produção de gelo e produtos alimentícios. No entanto, esta marca não ficaria por muito tempo sozinha no mercado. Em 1888, um imigrante suiço de nome Joseph Villiger, acostumado ao sabor das cervejas europeias e inconformado com a má qualidade das cervejas fabricadas no Brasil, resolveu abrir o seu próprio negócio, começando a fazer cerveja em casa. Deste modo, a 6 de Setembro desse ano, é registada a "Manufactura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia", fundada pelo próprio Villiger, por Paul Fritz e por Ludwig Mack, sendo então comercialmente lançada a Cerveja Brahma. A manufactura foi inaugurada com uma produção diária de 12.000 litros de cerveja e 32 funcionários. Começava aí uma luta que sobreviveu até aos nossos dias! O crescimento de ambas as empresas é grande e quase imediato. Em 1889 é publicado o primeiro anúncio de uma marca de cerveja brasileira: "Cerveja Antarctica encontra-se à venda na Rua Boa Vista, 50 A", podia ler-se no jornal "A Provincia de São Paulo" (actualmente o "Estado de São Paulo"). No ano seguinte, a Antarctica aumenta o seu quadro de funcionários para 200 e a sua capacidade de produção passa a ser de 40 mil hectolitros/ano. Este desenvolvimento leva a que a empresa se transforme numa sociedade anónima, com 61 accionistas, passando então a chamar-se de "Companhia Antarctica Paulista SA". Dois desses accionistas, João Carlos António Zerrener e Adam Ditrik von Bullow, eram sócios numa empresa de importação, em Santos, algo que facilitou a compra de máquinas e de matéria-prima para a cervejaria. Contudo, este grande crescimento não foi sustentado, pelo que ainda em 1893 a Antarctica se encontra à beira da falência, sendo então comprada pela sua principal credora, a empresa Zerrener, Bullow & Cia. De facto, este fenómeno de rápido surgimento de muitas marcas no mercado, era posteriormente acompanhado do desaparecimento de muitas outras. Assim sendo, a maior parte delas não chegaram aos nossos dias ou mudaram de donos. Como exemplos, temos as cervejas Bock e Victória da Cervejaria Feldmann de Blumenau - SC, que já não existem, a cerveja Caracu, inicialmente pertença da Cervejaria Rio Claro, em Rio Claro - SP e que hoje faz parte do portefólio da AmBev ou a Cervejaria Bavária, localizada na Moóca, que foi adquirida em 1904 pela Antarctica, que aí instalou a sede do seu grupo.
Quem não parava era a Brahma. Em pouco mais de uma década esta empresa viria a registar quase uma dúzia de marcas, como são exemplos a cerveja Bier, a Crystal, a Pilsener, a Franziskaner-Brau, a Munchen, a Guarany, a Ypiranga, a Bock-Ale ou a Brahma Porter, para apenas nomear algumas. A expansão da firma fazia-se também à custa da aquisição e fusão com outras empresas, como aconteceu em 1904, ano em que surgiu a Companhia Cervejaria Brahma, resultante da união entre a Georg Maschkle & Cia. – Cervejaria Brahma e a Preiss Haussler & Cia. – Cervejaria Teutônia (produtora, entre outras, das cervejas Excelsior, Teutonia e Munchen-Bock). A notoriedade da Brahma era também obtida através de fortes campanhas publicitárias e do patrocínio que dava a bares, restaurantes e artistas. Para além do mais, a importação de novos equipamentos e a melhoria geral da qualidade da sua maquinaria proporcionou-lhe a obtenção de uma boa imagem junto dos consumidores. Nesta altura, a produção de chope em tonéis chega já aos 6 milhões de litros e a distribuição conta com 9 depósitos situados no centro do Rio de Janeiro. Este crescimento contínuo foi acompanhado, durante os primeiros anos do século XX, do lançamento de novas marcas, casos da ABC, da Bock-Crystal, da Bramina, da Bull Bock, da Rainha ou da Colombo.
Pode parecer surpreendente o grande número de marcas lançadas por uma única empresa, neste caso a Brahma, mas o mercado cervejeiro do início do século passado encontrava-se em grande ebulição, com a fundação de inúmeras indústrias um pouco por todo o Brasil, sendo que cada empresa tratava logo de registar um elevado número de marcas diferentes, por forma a assegurar uma determinada  fatia do mercado. Não querendo fazer um rol muito extenso de todas as marcas que foram sendo criadas, convém enumerar algumas, por forma a ficar-se com uma ideia da pujança da indústria cervejeira da época. Comecemos em 1903, ano em que a Cervejaria Mora de Petrópolis – RJ, se tornou na Fábrica de Bebidas Cascata, produtora das cervejas Cascata Preta e Cascata Branca. Em 1906, a Cervejaria Kuhene lançou a “Progresso 1906”, cerveja criada com o objectivo de comemorar a inauguração da estação ferroviária de Joinville. Um ano depois, a fábrica de cerveja Caetano Carmignani, em Pirassununga, começa a elaborar a cerveja preta Cavalinho, isto após adquirir novas máquinas e equipamentos. Já em 1912 é inaugurada a Cervejaria Tripolitana, fabricante da Tripolitana e com sede em Cachoeiro do Itapemirim – ES. Resumindo e só para se ficar com uma ideia geral, basta dizer que um ano antes do início da Grande Guerra, isto é, em 1913, existiam 134 cervejarias só no estado do Rio Grande do Sul!
A 1ª Guerra Mundial não trouxe grandes alterações ao panorama cervejeiro do Brasil. O facto da guerra se desenrolar principalmente na Europa e de a importação de cerveja estrangeira ser diminuta ou mesmo nula, fez com que não só o consumo como também a produção se mantivessem a níveis bastante elevados e em franco crescimento. Das poucas notícias que nos chegaram relativamente à influência que esta guerra teve na indústria cervejeira brasileira, há que destacar o facto da viúva Kremer, proprietária da Cervejaria Germânia, ter sentido a necessidade de alterar o nome da sua empresa para Cervejaria Americana. Para além disso, notou-se um ligeiríssimo abrandamento no lançamento de novas marcas no mercado: a Brahma surgiu com a Carioca, a Fidalga, a Suprema e a Malzbier e a Companhia Cervejaria Paulista passou a distribuir a Níger, Poker e Trust. E pouco mais há a realçar! O fim da década de 1910 é atingido rapidamente, sem que aconteçam alterações substanciais no tecido empresarial e no mercado cervejeiro brasileiro. Durante este período, assistiu-se à consolidação da cervejaria Brahma como a mais influente e dinâmica da sua área. Veja-se que logo em 1921, esta empresa adquiriu a Cervejaria Guanabara, uma das mais antigas do país, confirmando assim a sua vocação expansionista. O seu crescimento era, logicamente, combatido por outras fábricas e marcas, quer isso se fizesse através do lançamento de novos produtos, quer através da utilização de meios publicitários. Uma das firmas que se entregou a essa "luta" foi a Companhia Cervejaria Adriática, que anunciava nos jornais com relativa frequência. Num desses anúncios, a Adriática mencionava a entrada no mercado de 15 mil dúzias de Adriática Pilsen, Adriática Poschorr, Operária e Primor, assim como "da muito afamada Cachorrinha", todas "leves e límpidas no seu amarello-topázio"

A historia da Cerveja No Mundo

Não é tarefa fácil determinar em que período terá sido produzida a primeira cerveja. Acredita-se que essa tarefa seja talvez tão antiga como a própria agricultura. De facto, sabe-se que o Homem conhece o processo de fermentação há mais de 10.000 anos e obtinha nessa época, mesmo em pequenas quantidades, as primeiras bebidas alcoólicas. Especula-se que a cerveja, assim como o vinho, tenha sido descoberta acidentalmente, provavelmente fruto da fermentação não induzida de algum cereal. Afirma-se que a descoberta da cerveja se deu pouco tempo depois do surgimento do pão. Os sumérios e outros povos teriam percebido que a massa do pão, quando molhada, fermentava, ficando ainda melhor. Assim teria aparecido uma espécie primitiva de cerveja, como "pão líquido". Várias vezes repetido e até melhorado, este processo deu origem a um género de cerveja que os sumérios consideravam uma “bebida divina”, a qual era, por vezes, oferecida aos seus deuses.
Diversos estudos arqueológicos realizados na região do Nilo Azul, actual Sudão, comprovaram que, cerca de 7000 a.C., os povos locais produziam uma bebida a partir de sorgo que seria semelhante à nossa cerveja. Análises químicas efectuadas aos depósitos residuais do fundo de um pote recolhido num campo arqueológico neolítico iraniano, datado de 5500 a.C., confirmaram a existência local de bebidas alcoólicas e especificamente de cerveja. Mas a prova arqueológica mais concreta que temos relativamente à produção de cerveja é proveniente da Mesopotâmia, mais propriamente da Suméria. Tratam-se de inscrições feitas numa pedra, relativas a um cereal que se utilizava em algo similar à produção de cerveja. Também desta civilização foi encontrada uma placa de barro (selo), recolhida em Tepe Gawra e datada de cerca de 4000 a.C., onde se vêm duas figuras que bebem possivelmente cerveja de um pote, utilizando para isso longas palhas, tradicionalmente usadas para aspirar a bebida e evitar a ingestão dos resíduos de cereal. Aliás, o Hino a Ninkasi (c. de 1900-1800 a.C.), a deusa da cerveja dos Sumérios é, na realidade, uma receita de cerveja. Refira-se, por curiosidade, que Ninkasi significa algo como "senhora que enche a boca". A nomeação mais corrente da cerveja suméria é sikaru, feita a partir da fermentação de grãos de cereal.
Em geral, a cerveja era feita por padeiros devido à natureza das matéria-primas utilizadas: grãos de cereais e leveduras. Ou melhor, para sermos mais correctos, essa actividade era executada por padeiras. De facto, a produção de cerveja era uma actividade caseira, a cargo das mulheres, que também estavam encarregadas de fazer o pão. Os textos sumérios revelam-nos também a existência de tabernas, geridas por mulheres, locais de divertimento sobretudo masculino, em que se comia e bebia em convívio.  A mais célebre das taberneiras foi Siduri, referida na Epopeia de Gilgamesh. Para produzirem a cerveja, deixavam a cevada de molho até germinar e, então, era moída grosseiramente e moldada em bolos aos quais se adicionava a levedura. Os bolos, após parcialmente assados e desfeitos, eram colocados em jarras com água e deixados a fermentar. Esta cerveja rústica ainda é fabricada no Egipto com o nome de Bouza. O lúpulo, assim como outras ervas aromáticas, tais como zimbro, hortelã e  losna, podiam ser adicionados à cerveja para corrigir as diferenças observadas no sabor.
Já no segundo milénio antes de Cristo e enquanto se assistia à queda do império sumério, surgia uma nova civilização na Mesopotâmia, descendente da civilização suméria mas mais avançada cultural e tecnologicamente, e que em muito contribuiu para o avanço no processo de fabricação de cerveja: os Babilónios. Documentos dessa altura indicam-nos que a produção de cerveja era uma profissão altamente respeitada, levada a cabo essencialmente por mulheres. A cerveja continuava a ser mais popular do que o vinho, também já conhecido por aquelas paragens, embora a vinha se reservasse, pelas condições naturais, às regiões montanhosas do Sul da Anatólia e do Cáucaso.
No período babilónico, contavam-se cerca de duas dezenas de  diferentes tipos de cerveja, com base em diferentes combinações de plantas aromáticas  e no maior ou menor emprego de mel, cevada ou trigo. O Código de Hammurabi, o sexto rei da Babilónia, introduziu várias regras relacionadas com a cerveja no seu grande código de leis. Entre essas leis encontrava-se uma que estabelecia uma ração diária de cerveja, ração essa que dependia do estatuto social de cada indivíduo. Por exemplo, um trabalhador normal receberia 2 litros por dia, um funcionário público 3 litros, enquanto que os administradores e sacerdotes receberiam 5 litros por dia. Outra lei tinha como objectivo proteger os consumidores da cerveja de má qualidade. Ficou assim definido que o castigo a aplicar por se servir má cerveja seria a morte por afogamento! Pelo Código, certas sacerdotisas estavam proibidas de entrar nas tabernas por razões de pureza ritual; por outro lado, estes estabelecimentos preenchiam uma função social para além do fornecimento de comida e bebida (não apenas cerveja mas também álcool de tâmaras fermentadas), pois eram, como já se referiu, locais de reunião e lazer.
Quase todas as cervejas dos babilónios seriam opacas e produzidas sem filtragem. Tal facto, como já vimos,  fazia com que bebessem a cerveja através de um predecessor da actual palhinha (no caso dos reis essa palhinha seria de ouro…), o que evitava que ingerissem o resíduo que se acumulava no fundo e que seria bastante amargo. No entanto, essa situação não impedia que a cerveja aí produzida fosse bastante conceituada, chegando os babilónios a exportar grandes quantidades para o Egipto.
Tal como os Babilónios, os Egípcios produziam cerveja desde tempos ancestrais, sendo que esta fazia parte da dieta diária de nobres e fellahs (camponeses). Para além de bem alimentar, servia também como remédio para certas doenças. Um documento médico, datado de 1600 a.C. e descoberto nas escavações de um túmulo, descreve cerca de 700 prescrições médicas, das quais 100 contêm a palavra cerveja. A sua importância é também visível nos aspectos religiosos da cultura egípcia. Nos túmulos dos seus antepassados, para além dos artefactos habituais como incenso, jóias e comida, era também habitual encontrar provisões de cerveja. E em casos de calamidade ou desastre natural, era frequente a oferta de grandes quantidades de cerveja aos sacerdotes de forma a apaziguar a ira dos deuses.
A extrema relevância da cerveja para os egípcios reflectia-se não só na existência de um alto funcionário encarregado de controlar e manter a qualidade da cerveja produzida, como também na criação de hieróglifos extra que descrevessem produtos e actividades relacionadas com a cerveja. Curiosamente, existem alguns povos que vivem ao longo do Nilo que ainda hoje fabricam cerveja num estilo muito próximo ao da era faraónica. O povo egípcio tinha uma forte apetência pelo henket ou zythum, verdadeia bebida nacional, preferida por todas as camadas sociais. Ramsés III (1184-1153 a.C.), muitas vezes designado por "faraó-cervejeiro", doou aos sacerdotes do Templo de Amón 466.308 ânforas (cerca de 1.000.000 litros) de cerveja proveniente das suas cervejarias.
Deve-se ao médico Zózimo de Panópolis uma descrição da antiga técnica de brassagem (semelhante para a Mesopotâmia e Antigo Egipto): germinação e maltagem rudimentar do cereal que, depois de seco, era moído e transformado numa massa, por sua vez endurecida; moldava-se então a massa em pequenos pães, que eram aquecidos em seguida mas não em demasia para que restasse alguma humidade no seu interior; depois de arrefecidos, colocavam-se, em pedaços, num recipiente com água açucarada; juntava-se, como no pão, um pedaço da massa (fermento) do fabrico anterior; terminada a fermentação, o líquido era metido numa cuba com água e posteriormente filtrado; o líquido final era guardado em ânforas num lugar fresco.
Longe desta área geográfica, a China desde cedo desenvolveu técnicas de preparação de bebidas do tipo da cerveja, obtidas a partir de grãos de cereais. A "Samshu", fabricada a partir dos grãos de arroz e a "Kin" já eram produzidas cerca de 2300 a.C. As técnicas utilizadas eram algo diferentes das dos povos mesopotâmicos e egípcios. De facto, o desenvolvimento da cerveja até à forma pela qual hoje a conhecemos, deve-se mais a estes dois últimos do que à civilização chinesa. Foram mesmo os egípcios que ensinaram os gregos a produzir cerveja. Já no Japão, subsiste o milenar saké, uma cerveja de arroz, frequentemente confundida no Ocidente com uma bebida destilada. Bebe-se quente ou fria, de acordo com o gosto e o contexto.
Apesar de ser considerada menos importante que o vinho, a cerveja evoluiu durante o período grego e romano. Atente-se nos escritos de Sófocles (450 a.C.) relativamente a recomendações sobre o consumo de cerveja, incluindo esta numa dieta que considerava equilibrada. Outros autores gregos como Heródoto e Xenofontes também mencionaram o acto de beber cerveja nos seus escritos.
Assim como o tinham aprendido com os egípcios, os gregos ensinaram a arte de produzir cerveja aos romanos. Todavia, em 500 a.C. e no período subsequente, gregos e romanos deram preferência ao vinho, a bebida dos deuses, tutelada por Baco. A cerveja passou então a ser a bebida das classes menos favorecidas, muito apreciada em regiões sob domínio romano, principalmente pelos germanos e gauleses. Muitos romanos consideravam a bebida desprezível e típica de povos bárbaros. Tácito, na sua descrição dos germanos, referiu-se a uma bebida "horrível", fermentada de cevada ou trigo. Foi nessa época que as palavras cervisia ou cerevisia passaram a ser utilizadas pelos romanos, em homenagem a Ceres, deusa da agricultura e da fertilidade. Plínio foi um dos autores clássicos que escreveu sobre o assunto, descrevendo a evolução do processo de fabrico da cerveja e os hábitos dos povos celtas e germânicos da Bretanha e Europa Central.
Na Gália (conquistada totalmente no ano 52 a.C.), tradicionalmente consumidora de cerveja, a influência do vinho romano atingiu sobretudo as elites. De acordo com Possidónio, "a bebida consumida nas casas ricas é vinho trazido de Itália (...). Porém, entre os habitantes mais necessitados, é bebida uma cerveja feita de trigo, à qual é acrescentado mel; a massa do povo bebe-a sem mistura. Chamam-lhe corma." Contudo, os gauleses passaram de importadores a produtores de vinhos de novas qualidades e muito apreciados em Roma; em 91 d. C., o imperador Domiciano chegou a ordenar a destruição de metade das vinhas gaulesas para proteger a produção romana.
O vinho das legiões romanas não se impôs aos povos que ficaram fora do Império. A cerveja permaneceu a bebida eleita nas regiões nórdicas facto confirmado pelas lendas e mitologias locais. Na saga poética finlandesa Kalevala, contam-se 400 versos dedicados à cerveja; no Edda, outro relato épico nórdico, o vinho é apresentado como a bebida dos deuses, a cerveja reservada aos mortais e o hidromel próprio dos habitantes do reino dos mortos. Já no leste europeu, confinante com as estepes asiáticas, de terras ácidas, providas de centeio e aveia, o kvass, tipo de cerveja ligeiramente alcoólica, obtida pela fermentação daqueles cereais, ancorou-se nos hábitos dos camponeses eslavos. A tradição do kvass familiar e campesino mantém-se ainda hoje um pouco por toda a Rússia e países ex-soviéticos. A braga é outro tipo de cerveja aparentada ao kvass e com muitas tradições no leste europeu.
Rótulo de Kvass, a típica bebida russa
Findo o Império Romano, após o século V, estavam estabelecidas as geografias da cerveja e da vinha. A produção de cerveja, doméstica e frequentemente a cargo de mulheres - embora fosse, sobretudo, para consumo masculino -, obedecia aos condicionantes naturais que marcavam a economia agrícola e daí o seu carácter sazonal. Durante muito tempo, a cerveja seria, ainda, de difícil conservação, ao contrário do vinho que, se guardado em boas condições, podia até melhorar com a idade. O vinho, que se tornara a bebida consagrada na liturgia católica, afirmara-se sobretudo nas regiões do sul da Europa e entrava selectivamente nas mesas mais abastadas do norte europeu, onde a cerveja permanecia a bebida dos pobres, se bem que não deixasse de ser apreciada por todas as classes.